De São Paulo |
Sérgio Chaia, presidente da Nextel: companhia vai reproduzir em 3G seu modelo baseado em vendas para grupos
É tentador pensar que o melhor a fazer é assegurar a rentabilidade, ainda que isso signifique ganhar menos participação no mercado. O discurso da Nextel vai nessa direção. "Não vamos entrar no mercado do pré-pago de R$ 3", disse ontem o presidente da operadora, Sérgio Chaia. Hoje, as vendas estão concentradas em assinantes empresariais, mais rentáveis.
Mas essa decisão também tem implicações, que podem levar a companhia a uma encruzilhada no futuro. Com a entrada na terceira geração (3G) da telefonia móvel, prevista para a segunda metade do ano que vem, a Nextel espera triplicar sua base de assinantes até 2015. Trata-se de um aumento considerável frente ao patamar atual: a empresa fechou junho com 3,7 milhões de clientes do serviço de radiochamadas (aquele em que o usuário aperta um botão para falar e o solta para escutar o interlocutor do outro lado da linha).
Companhia vê espaço para atuar sozinha, apesar da tendência de consolidação entre as empresas do setorA empresa revisou para cima essa projeção. No fim do ano passado, a Nextel projetava dobrar sua base de usuários com a estreia da 3G. Ainda assim, a operadora será muito pequena perante as demais concorrentes: daqui a cinco anos, ela terá cerca de 10 milhões de assinantes. Hoje, o Brasil tem mais de 220 milhões de celulares.
Nem todos os clientes geram receita para as teles. Muitos têm um pré-pago, mas raramente ou nunca compram créditos para usá-lo. Não por acaso, a Oi cancelou mais de 6 milhões de linhas inativas no segundo trimestre para limpar sua base.
Apesar disso, ter um grande volume de assinantes é um objetivo perseguido por qualquer operadora, pois isso representa escala e maior poder de fogo nas negociações com fornecedores de infraestrutura e aparelhos de celular.
Paralelamente, as operadoras estão se consolidando em grandes grupos com atuação em telefonia fixa, celular, banda larga e TV paga. A estratégia é vender pacotes com vários desses serviços. Esse movimento vai se acentuar com a aprovação, no Senado, esta semana, do projeto de lei que abre o mercado de televisão a cabo para as teles.
"Não é imprescindível [ser uma operadora multisserviços]", destacou Chaia. Mesmo assim, o executivo ponderou que a companhia estuda essa tendência "de maneira profunda". Para alguns analistas, seria viável uma parceria entre a Nextel e a GVT ou a Sky.
A rede 3G da Nextel vai estrear inicialmente nos 12 Estados em que a empresa já atua, incluindo São Paulo, Rio, Minas Gerais e Distrito Federal. A previsão é cobrir o resto do país no ano seguinte. A operadora investirá R$ 5,5 bilhões na rede e na infraestrutura de radiochamadas, que será mantida.
A estratégia da Nextel é replicar, na telefonia móvel, o modelo de negócios que adota no segmento de radiochamadas: concentrar as vendas em empresas e grupos de clientes. "Vamos crescer de dentro para fora, com um assinante indicando o outro", disse Chaia.
Hoje, a empresa é obrigada a fazer isso. Pelas regras do serviço de rádio, ela só pode prestar serviços a empresas ou pessoas físicas que constituam um grupo com atividade em comum. O plano da operadora é, com a 3G, expandir esse conceito a famílias e amigos, por exemplo.
As concorrentes alegam que a Nextel já faz isso, de forma indevida. No mês passado, a Justiça do Rio proibiu a empresa de fazer novas vendas a pessoas físicas não vinculadas a um grupo, em ação movida pela TIM. A decisão, de primeira instância, só terá efeito prático quando o processo for julgado. A Nextel apresentou recurso.
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