Fernando Paiva
As grandes cidades do futuro estarão repletas de sensores por toda a
parte, coletando e analisando dados que fundamentarão decisões de seus
gestores. Mais do que cidades inteligentes ou sustentáveis, serão
cidades "cognitivas", capazes de se descobrir, de se entender, de
aprender consigo mesmas. O conceito foi apresentado por Antonio Carlos
Dias, executivo de soluções de governo e de cidades mais inteligentes da
IBM, durante o seminário "Metrópole Sustentável", realizado pela FGV no
Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 9.
Boa parte dos dados coletadas no dia a dia de uma cidade usarão a rede
celular para a sua transmissão até centros de controle para a análise
por gestores públicos. E não serão apenas dados gerados por sensores
específicos, mas também pelos cidadãos, através de seus telefones
móveis. É possível, por exemplo, acompanhar o trânsito de uma grande
cidade pelo deslocamento da massa de celulares pelas ruas – sem
necessariamente contar com aplicativos móveis como o Waze. Agregando-se
os diversos dados coletados e uma modelagem estatística, torna-se
possível prever engarrafamentos. "Tempo real não é mais suficiente no
trânsito. Os gestores precisam saber com duas horas de antecedência onde
vai acontecer um engarrafamento", disse Dias. Segundo o executivo, já
existe uma experiência desse tipo em Singapura.
Em tempos de big data, Dias destaca que os dados estruturados serão
minoria. A grande maioria serão dados desestruturados, ou seja, dados
incertos, providos sem uma frequência, uma origem ou um volume
previsíveis.
Urbanização
A necessidade de as cidades se tornarem mais inteligentes é fundamental
nos tempos atuais, de intensa urbanização. Em 2007, pela primeira vez
havia no mundo mais gente vivendo em cidades do que no campo. Em 2050,
estima-se que 70% da população mundial estará vivendo em centros
urbanos.
Na América Latina, em 2007, as 198 maiores cidades reuniam 260 milhões
de habitantes e um PIB equivalente ao da Índia e da Polônia somados.
Dessa lista, as 10 maiores cidades respondiam por 100 milhões de
habitantes e 1/3 do PIB da região. Em 2025, essas 198 cidades terão 315
milhões de habitantes e um PIB equivalente a três vezes o da Espanha.
Para Dias, é preciso entender que as tecnologias necessárias para
construir cidades cognitivas já existem. "O desafio agora é como aplicar
as tecnologias. Faltam processos, falta gente qualificada, falta
informação etc", comentou.